Na mitologia grega, as
harpias ("arrebatadora", "rapinante", do grego ἅρπυια,
harpūia, por intermédio do latim
harpȳia, relacionado ao verbo grego ἅρπάζειν e ao latino
rapĕre, ambos significando "arrebatar") eram filhas de Taumas e Electra. A princípio eram duas,
Aelo ("a borrasca", "a impetuosa") e
Ocípite ("a rápida no voo") e mais tarde seu número foi aumentado para três com
Celeno ("a escura").
Segundo R.D. Barnett as harpias foram adaptadas de ornamentos em caldeirões de bronze de Urartu:
- Eles fizeram tal impressão na Grécia que parecem ter dado origem ao tipo da sirena
na arte grega arcaica. Como parecem desses nobres recipientes de
cozinha, aparentemente deram origem ao conhecido mito grego de Fíneas e
as harpias e assim foram representadas na arte grega. O próprio nome de
Fíneas, a vítima de suas perseguições, pode não ser mais que uma
corrupção do nome de um rei de Urartu, Ishpuinish ou Ushpina (cerca de 820 a.C.), talvez associado pelos mercadores gregos com esses caldeirões.
Representações
A iconografia ora as mostra ávidas de sangue e de sexo, a aguardar o
momento de beber o sangue do herói que tombou na refrega, ora como
sedutoras mulheres aladas, transportando carinhosamente o corpo de um
jovem, não necessariamente para o
Reino de Hades, mas para alguma espécie de paraíso, onde possam mais tarde usufruir do amor do raptado. Na chamada
Tumba de Xanto
na Lícia, as harpias, na forma de aves com cabeça de mulher, guardam o
túmulo para arrebatar o morto. Eram frequentemente esculpidas sobre os
sepulcros com a finalidade de raptar particularmente os mortos mais
jovens. Não é fácil, por vezes, a não ser nas intenções, distingui-las
das
sirenas,
enquanto estas não surgiram nas pinturas com os pés palmitiformes. Como
os demais deuses alados e raptores, as três damas-aves aladas têm por
objetivo a união íntima com aqueles que arrebatavam.
Mais tarde, sobretudo à época clássica, as harpias transformaram-se em monstros horríveis, com rosto de mulher idosa, corpo semelhante ao do abutre, garras aduncas e seios pendentes. Pousavam nas iguarias dos banquetes e espalhavam um cheiro tão infecto que ninguém mais podia comer.
Dizia-se que habitavam as ilhas Estrófades, no mar Egeu. Muito mais tarde, o poeta romano Virgílio, na Eneida (6.289) colocou-as no vestíbulo do Inferno, junto com outos monstros.
Mitos
- Sobre Fineu, o adivinho, rei da Trácia, pesava terrível maldição
por abusar de seus dons divinatórios - segundo alguns, por revelar aos
homens as intenções dos deuses, segundo outros por indicar a Frixo como
chegar à Cólquida e a seus filhos como retornar à Hélade. Tudo quanto se
colocasse à frente do mesmo as harpias o carregavam, principalmente em
se tratando de iguarias. O que não podiam levar, sujavam com seus
excrementos. Quando os argonautas passaram pela Trácia, o soberano
pediu-lhes que o libertassem dos monstros. Zetes e Cálais, filhos do
vento Bóreas, perseguiram-nas. O destino determinara que as harpias só
pereceriam se agarradas pelos filhos de Bóreas, mas estes perderiam a
vida se não as alcançassem. Perseguidas sem trégua, a primeira, Aelo,
caiu em um riacho do Peloponeso. A segunda, Ocípite, conseguiu chegar às
ilhas Equínades. Íris ou, segundo outros, Hermes
postou-se diante dos perseguidores e proibiu-lhes matar as harpias
porque eram "servidoras de Zeus". Em troca da vida, prometeram não mais
atormentar Fineu, refugiando-se numa caverna da ilha de Creta.
- Segundo fontes tardias, as harpias uniram-se ao vento Zéfiro e geraram quatro cavalos: os dois de Aquiles, Xanto e Bálio, "mais rápidos que o vento" e os dois dos Dióscuros, Flógeo e Hárpago.
Simbolismo
Segundo Jean Chevalier e A. Gheerbrant, as harpias são parcelas
diabólicas das energias cósmicas, as abastecedoras do Hades com mortes
súbitas. Traduzem as paixões desregradas; as torturas obsedantes,
carreadas pelos desejos e o remorso que se segue à satisfação das
mesmas. Diferem das
Erínias na medida em que estas representam a punição e aquelas figuram o agenciamento dos vícios e as provocações da maldade. O único
vento que poderá afugentá-las é o
sopro do espírito.